quinta-feira, 7 de julho de 2011

Dino Campana - Sonho de Prisão

No violácio da noite ouço canções brônzeas. A cela é branca, o catre é branco. A cela é branca, repleta de uma torrente de vozes que morrem nos angelicais berços, de vozes angelicais brônzeas está repleta a cela branca. Silêncio: o violáceo da noite: em arabescos pelas grades brancas o azul do sono. Penso em Anika: estrelas solitárias: depois igrejas de mármore brancas: nas ruas Anika canta: um bobo de olho infernal, gritando, guia-a. Agora minha cidade entre as montanhas. Do parapeito do cemitério diante da estação eu vejo o caminho negro das máquinas, subir, descer. Ainda não é noite; silêncio de olhos de fogo: as máquinas mastigam e remastigam o negro silêncio no caminho da noite. Um trem: chega em silêncio, pára, se esvaza: as fagulhas do trem mordem a noite: do parapeito do cemitério os olhos rubros vazam na noite: depois, me parece, tudo move-se, estronda: Eu fugindo por uma janelinha? eu que ergo os braços na luz!! (o trem passa sobre mim estrondando como um demônio.)

*os mísseis são os mísseis, são os mísseis, são os mísseis / são demônios (Itamar Assumpção)

Um comentário:

  1. Para-raio de uma novela em alta velocidade
    Frente ao tédio da cela.
    A-lu-ci-nan-te

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