sexta-feira, 21 de março de 2014

Uma estranha espécie animal - José Carlos Balieiro

À margem

Nos arredores da minha cidade natal 
Solitariamente apartado das gerações
Percorro matas, grutas e plantações
Como uma estranha espécie animal.

Conheço tão poucos lugares.
Nem sei em que mundo vivo.
De informações, sorrateiro me esquivo.
Vago entre pastos e pomares.

À noitinha retorno a cidade iluminada.
Pessoas, automóveis, velocidade alucinada.
Na minha casa, certo silêncio, nada se move.
Eu, absorto, leio um romance do século dezenove.


 *pic: reprodução de obra de Fábio Baroli




Tripalium

"A origem da palavra trabalho vem da 
forma latina tripalium, um instrumento de
 tortura usado na roma antiga, formado por 
três estacas de madeira cravadas no chão, 
onde os escravos eram amarrados para o suplício."


Acordo somente quando sonho
Sonho por não querer acordar
Se acordo, sigo entre os sonâmbulos
A noite é longa, os versos não.....
Não é o sol isto que clareia na horizonte
É uma afta infeccionada no céu
No céu da boca aberta de Deus.

Nas primeiras horas da manhã
As faces ainda preservam incertos resquícios
De tudo que se viveu na inebriante inércia do leito.
Por debaixo desses cobertores que nos encobrem
Onde os corpos descobrem corpos astrais.
Na profundidade de si, criaturas abissais.

Despertadores despertam pessoas
que se misturam nos metrôs 
que se apertam nos ônibus
A cidade funciona, pessoas funcionam
Neste pequeno sonho cotidiano de todos.
Sem que todos queiram.  

Um comentário:

  1. Um dia tive o prazer de ter um dos poemas dele na parede lá de casa. Gosto muitos dos escritos do Zeca. Que venham outros...

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