terça-feira, 28 de outubro de 2014

Essas eleições...


...vão deixar saudades. Foi sem dúvida umas das eleições mais marcantes que já vivi. Seja pelo apelativo circo midiático, a morte súbita de um candidato e as viradas imprevisíveis por desconstrução da imagem pública.
    Também tiveram suas boas surpresas como era de se esperar nas primeiras eleições depois das históricas manifestações de junho. A primeira delas, a multiplicidade dos candidatos em todos os debates do primeiro turno que (para o bem ou para o mau) pela primeira vez refletiu a variedades de pensamentos e ideologias que compõe esse amalgama gigantesco que temos a audácia e a coragem de chamarmos unicamente de Brasil.
    Uma dobradinha interessante foi a Luciana Genro - Eduardo Jorge defendendo, cada um a seu modo e com suas teses, temas progressistas com um idealismo que marcou pontos para a discussão séria e racional sobre convenções que fazem milhões de pessoas sofrer e não podem avançar porque batem na barreira intransponível da opinião pública.
   Interessante também foi a distribuição de apoios desses dois candidatos que, salvo suas particularidades fundamentais, tinham muito em comum. Eduardo Jorge apoiou claramente Aécio e Luciana embora não apoiasse Dilma sugeriu que não se votasse no tucano.
     Não há dúvidas de que a manobra eleitoral de Luciana Genro tenha sido mais inteligente, e qualquer leitura apontaria que a maioria dos eleitores de Eduardo Jorge repudiaria o apoio do ambientalista. Mas por isso mesmo que podemos falar em sinceridade, autonomia e coragem por parte de Eduardo Jorge, deixando claro em seu enorme discurso quando anunciou o apoio ao tucano que não se identificava com o governo que ele propunha, mas indicava que a atividade política engloba, em seu jogo, muita coisa além do que identificação absoluta pela qual muitos saem se digladiando por aí.

                         "Posso afirmar que me diverti
                muito nessas eleições,
                   coisa que não aconteceria se eu
                perdesse meu tempo e meu humor
                  brigando com as pessoas por aí." 

     Posso afirmar que me diverti muito nessas eleições, coisa que não aconteceria se eu perdesse o meu tempo e meu humor brigando com as pessoas por aí. Aproveitei, ao contrário, para entender como as outras pessoas pensavam, fazendo com que as vezes eu conseguisse esclarecer alguma questão dentro mesmo das cadeias de pensamento da pessoa.
      Ora, convenci nove pessoas a votarem no Eduardo Jorge no primeiro turno, e, embora tendo votado na Dilma no segundo, minha opinião sobre meu candidato não estremeceu nem um pouco. Ainda mais por saber que a pluralidade nos debates foi garantida por ele ter sido o único a se negar a entrar num acordo com a globo para o qual foram chamados ele, Dilma, Aécio e Pastor Everaldo. A ideia da emissora era haver um consenso e contemplar a porcentagem que o TSE exige para não se fazer o debate com todos que representam partido com representante na câmara. Na outra ponta desse eixo se encontra o Pastor Everaldo, ele foi o único a fazer o ridículo papel de cabide de algum candidato, deixando até mesmo o tucano sem graça enquanto levantava para ele sacar no referido debate.
    Mas, além das pessoas com as quais falei e convenci, o entusiasmo estava presente na discussão, sempre cordial, com pessoas que pensavam radicalmente diferente de mim.
       Uma militante do PSDB mesmo ficou muito agradecida depois que ficou sabendo que eu votaria no PSOL (isso no começo das eleições) e mesmo assim eu fui educado com ela e falei sobre os motivos que eu não votaria no Aécio muito calmamente.

                              "E deus me livre de me 
                       transformar num fiscal
                           do bom comportamento"   

      Ao conversar com um antigo professor de história meu, partidário do Aécio, que soltava alguns comentários que podiam ser entendidos como preconceituosos à esquerda não me senti ofendido, afinal ele falava com a leveza de quem brinca. E deus me livre de me transformar num fiscal do bom comportamento rechaçando qualquer brincadeira bem intencionada com o lado político oposto, afinal, também na esquerda temos nossas piadas e taxações que podem não ser agressivas, só engraçadas.
  Ao invés de me entregar à tentação de taxá-lo e listar as idiossincrasias de seu lado político, que sempre estão na ponta da língua. Preferi levar na brincadeira que propunha e ressaltar que foram suas excelentes aulas de história é que fizeram de mim um anarquista.
    No mais acho que foi válido. Afinal, nem que seja nos debates do primeiro turno ouvimos diferentes teses sobre as direções políticas do nosso país e assim poderemos refletir melhor.
      O que eu percebi é que, sabendo conversar, tudo pode ser abordado, tudo pode ser discutido.
      Também Aécio não é um monstro, será tão difícil entendermos que não votamos no outro porque ele é o diabo encarnado, é apenas porque não queremos determinado projeto político para o país. Além de Aécio não ser um monstro tem muita habilidade política, sabendo ele que, caso eleito, deve moderar em medidas impopulares, senão não é reeleito nem elege sucessor. 
      Mas a principal vitória política, não se dá pela reeleição do PT. Se dá pelo fato de a presidente eleita pelo PT se comprometer claramente eu seu discurso de vitória com a urgente reforma política, apoio governista já temos, agora é só nos organizarmos em torno dos movimentos sociais e irmos para as ruas.

                 "Apoio governista [para a reforma
               política] já temos, agora é só nos
           organizarmos em torno dos movimentos
             sociais e irmos para as ruas." 

      E para aqueles que clamam que o nordeste seja declarado a "Nova Cuba" saibam que o Brasil não caminha para o comunismo, mas caminha, sim, para uma social-democracia, ou seja, uma democracia governada e pensada pelo e para o povo. Coisa que muito deveria agradar as pessoas que se identificam com o Partido da Social Democracia Brasileira, ou PSDB.
       Já podemos retomar as amizades e nos imbuir de boas vontades, a eleição já passou, e só valerá a pena se conseguirmos reverter o quadro de violência que se deu nas relações e nas redes sociais e usarmos da pluralidade não para alimentar nosso ódio, e sim para aumentar nosso universo de conhecimento político, coisa que, inclusive muito servirá ao advento do projeto político que acreditamos.
       Saber enfim, olhar o novo e os acontecimentos com distância e curiosidade, não sem paixão. Até porque sem ela nem o almoço de domingo com a família vale a pena. É pela paixão, e pelo aprendizado que ela vai gerar que essas eleições vão deixar saudade. 


Vinicius Tobias

2 comentários:

  1. É isso aí, cara! Sinto que nós brasileiros estamos nos politizando. Em razão ,talvez, do facebook msm, apesar de tudo. Falar para um público amplo exige uma certa inteligência, uma certa ética inexistente no privado da fofoca. Por mais que não aconteça ainda, o facebook cobra de cada um uma mensagem interessante. Por isso, vejo nosso amadurecimento gradual. O Brasil precisa de discutir um projeto. As manifestações de 2013 afirmam isso. Dilma reconheceu que é possível admitir a corrupção sem perder o poder ou sujar sua imagem (parece que não está dando pega para o marketing), primeiro passo para vigiar e punir. A necessidade de mudança fez todos os partidos nestas eleições se comportarem como oposição, inclusive Dilma. A prova de que a questão não é partidária, é a reeleição da presidenta em meio a tanto caso de corrupção , inflação, conspiração jornalística. Mudar significa não substituir partidos, mas reconstruir a estrutura de poder que os partidos estão inseridos.

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  2. Concordo que tem de haver paz.

    Mas as redes da esquerda são essas:
    http://blogoosfero.cc/
    http://diasporabr.com.br/
    http://participa.br/
    http://participatorio.juventude.gov.br/
    http://edemocracia.camara.gov.br/

    ESQUERDA

    Facebook serve à Direita e pessoas extrapolam poderes ali sobre outras
    pessoas. Grandes corporações tem controles sobre o fluxo de informação, o
    condicionamento de informação tendenciosa é enorme e eles tem alvos.
    Colocam inteligência artificial para fazer "serviços". As pessoas mesmo
    não fazem muito esforço.

    Não quero fazer nenhum julgamento de ser "fiscal do bom comportamento".
    Não é isso. O problema é que o Brasil precisa de participantes nas redes
    da esquerda, que não são divulgadas. Que, por sua vez, não são levadas a
    sério pelos ativistas de esquerda.

    Se alguém aqui levasse a sério a Universidade e as Pesquisas Acadêmicas,
    não seria preciso tanta encheção de saco. Mas pelo jeito, não havia
    interesse em mudar o Brasil, nos movimentos de Junho 2013. Era só
    um movimento de interesseiros querendo se dar bem em cima dos outros? Era
    isso !?

    Não adianta só ir para as ruas. É preciso entender o contexto e agir de
    acordo com a situação. Com seriedade, senão serão outros 4 anos de Brasil
    sem conseguir fazer funcionar um governo que preste. Porque as propostas
    são diferentes das atitudes das pessoas. Por interesses próprios.



    O resto

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